Imagem capa - Vida na fazenda por Nayanna Nobre
Vida

Vida na fazenda


A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.


Oi gente, tudo bom?

A vida na fazenda rende muita história boa. Deixa eu matar mais um pouco da curiosidade de vocês! Hoje vou apresentar um pouquinho da rotina.

No post anterior eu contei como vim parar aqui. Click aqui para ler! E agora, depois de quase dois anos vivendo de verdade nesse lugar, consegui criar uma rotina que eu me adaptei muito bem. 

Mas antes disso deixa eu apresentar meus companheiros de quatro patas. Nós temos sete cachorros aqui: Tinho, Zeus, Gasolina, Thor, Perola, Princesa e Chopp. Chamados também de "gangue"! Escrevi na ordem em que foram chegando nas nossas vidas. 

O primeiro, o Tinho, é um labrador preto de cinco anos que foi doado para nós porque destruía a casa antiga dele. Agora ele destrói meu jardim :) ele é muito amoroso e é o fiel companheiro do meu marido.

Zeus e Gasolina são nossos border collies. São nossos cães mais inteligentes, mas precisam de muito espaço e de distrações constantes. Não é raça para manter preso ou em quintal pequeno.

Thor e Perola são nossos vira-latinhas. A mãe deles era uma andarilha da região. Chegou aqui em casa magra e sofrida e foi ficando. Uma ninhada de sete nasceu e conseguimos famílias para quase todos. Esses dois ficaram e hoje são parte da família. Nos dão muito trabalho! Correm atras dos carros e motos que chegam, choram quando ficam no canil. Típicos vira-latas! 

Princesa é a mais malandra, uma labradora marrom de quase dois anos que transformou a vida dos pássaros da fazenda em um inferno. Ela e o Tinho são os pais da ninhada que comentei no outro post.

E por fim, temos o Chopp, o terrorista! O Chopp é um american staffordshire terrier que recém completou um ano de idade (e já foi castrado). Ele é impossível. Ele perturba os cavalos, os carros, as motos, os funcionários, outros cachorros. A gente chama ele de "lambe lambe" porque ele vem com aquela língua dele de dois metros bem nas nossas pernas. Ele come tudo que vê, rouba os sapatos das visitas, trás coisas que encontra na rua para o jardim, etc. 



Depois das devidas apresentações, vamos a rotina. 

Primeiro detalhe importante: ainda não temos energia elétrica convencional. Usamos um gerador que fica ligado durante o dia todo. Já estamos com toda estrutura para trazer energia, mas a COELBA não libera nossa demanda. 

Detalhe dois importante: não temos estradas asfaltadas na região. A mais próxima fica a 54km de distância.

Depois de apresentados esses pequenos e insignificantes detalhes vamos lá.


Nossa vida é bem regrada pela luz do sol, acordamos (eu tento me enquadrar nessa turma, mas nem sempre dá) cedo e dormimos cedo. Quando eu falo cedo, é cedo mesmo. Todos os dias aqui é segunda-feira, a rotina é sempre constante em relação a horários mas não em relação as tarefas. Aqui, plantamos uma vez no ano, no período da chuva. Isso significa que nosso ritmo é anual. Todo ano plantamos, cuidamos, colhemos, preparamos e quando esse ciclo acaba, repetimos o processo. Atualmente, estamos na época do preparo da terra. Estamos esperando até a próxima chuva para plantarmos. A vida na fazenda é controlada pela chuva, se não chove não tem plantação. Pode imaginar o que essa mudança climática está provocando aqui? 

Aqui produzimos soja e milho e estamos iniciando na pecuária (eu uso o verbo na primeira pessoa do plural, mas eu só assisto as coisas acontecendo). 

Falando agora um pouco de mim, sou a responsável pelo escritório da fazenda que eu moro e vou a cidade pelo menos uma vez por semana para resolver coisas da minha casa/vida e da fazenda. 

Diariamente, antes de vir para o escritório, faço minha caminhada diária com meus cachorros. No começo, assim que mudei para cá, não encontrei de cara um exercício que eu gostasse e que fosse viável de praticar aqui. Depois de muito esforço me disciplinei e estou diariamente fazendo as caminhadas. É muito difícil sozinha, preciso admitir. Aqui não tem academia para você ir com a amiga (nem a amiga tem!), não tem como contratar um personal, participar de uma aula em grupo no parque.. Sou eu e eu (e meus cachorros). Tem dia que vou por eles, tem dia que vou por mim, mas já é um habito. Depois disso vou em casa, tomo um banho e venho trabalhar. Passo praticamente o dia todo no escritório cuidando dos pedidos das cantinas, chegada e saída de caminhões e compras gerais, e é claro, aproveito para tratar minhas fotos, fazer cursos online, responder meus e-mails. Acaba rendendo bastante porque não pego transito para chegar ao trabalho, para almoçar em casa, para ir fazer meus exercícios! Tempo é bem aproveitado (e tempo é dinheiro né?) Fim do dia é só relaxar com o maridão! 

Desde que vim para cá já assisti umas mil séries diferentes e mais mil filmes. Botei também minha leitura em dia! Tenho feito coisas que realmente gosto, com muita qualidade de vida! Como bem, durmo bem, não pego transito, não vejo violência gratuita na rua, não associo mais shopping a final de semana. Sinto falta do cinema e dos bons restaurantes, mas toda vez que vamos na cidade damos um jeito de fazer algo diferente. Não gasto dinheiro por gastar, porque aqui não tem aonde gastar. Uso internet para quase tudo que preciso na cidade. 


Próximo post vai ser sobre os pontos positivos e negativos de viver aqui! Beijos!